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Jorge Wucherpfenning, Augusto Stresser e o maestro Leo Kessler out 1911.jpg

Papilio Innocentia

ÓPERA

Música de Leonard Kessler (1882-1924)


Libreto de Emiliano Pernetta (1866-1921)


Argumento de Visconde de Taunay (1843-1899)

Foto: Jorge Wucherpfenning, Augusto Stresser e Leo Kessler em 1911.

Papilio Innocentia: Bem-vindo
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Uma estréia, após 101 anos

NOTAS DE PROGRAMA

Após a chegada de Leo Kessler à Curitiba, em 1911, com uma companhia de operetas, este compositor suíço escolhe a capital do Paraná para morar e mudou o cenário artístico da cidade. Colaborou orquestrando e revisando a ópera Sidéria, de Augusto Strasser (1871-1918) e abriu o primeiro conservatório de música do Paraná, embrião da atual Faculdade de Artes do Paraná, que neste ano completa seu centenário.


Foi comissionado a escrever uma ópera a ser apresentada no Theatro Guayra de então - na atual alameda Dr. Muricy - já em 1912. Após três anos de trabalho, eis que musicou-se o libreto do príncipe dos poetas paranaenses, o imortal Emiliano Pernetta, baseado em obra de Visconde de Taunay que, inclusive, governou a Província do Paraná duas décadas antes.


Não se viabilizou a montagem no Guayra, em 1915, nem as promessas do governador de São Paulo, Altino Arantes, de montá-la em 1920, nem nos esforços para incluir a peça nas comemorações do centenário de independência do Brasil, em 1922, no Rio de Janeiro.


É obra preciosa da nascente música brasileira. Ecoa-se o sotaque musical do Paraná no fandango batido ao final da peça, em ritmos de valsas de gafieira e no maxixe - ou tango brasileiro - entoado pelo personagem José.


Corajoso o nosso Kessler, pois à época eram frequentes as discussões acerca da “moralidade” do maxixe, com fervorosos perseguidores, entre eles, o grande Ruy Barbosa. Mesmo o fandango - tão caro aos paranaenses - era perseguido pelas autoridades policiais de outrora, e neste documento musical encontramos o registro mais antigo do gênero.


Sobre esta ópera, escreve Heitor Corrêa de Azevedo, em 1960:  Papilio Innocentia reservará uma agradabilíssima surpresa a todos os que a ouvirem. Porque, pelo libreto e pela partitura é obra realmente concebida para o teatro, com o sentido dos efeitos cênicos que asseguram o êxito de uma ação dramática falada ou cantada.


A tristeza do genial Kessler em não ver seus esforços operísticos postos em cena, fez que adoecesse e fosse encaminhado para tratamento em uma clinica alemã, em Blumenau. Resolveu encurtar sua vida, atirando-se no rio que dá nome àquela cidade, sem antes deixar apaixonada carta à pequena filha, hoje aos 96 anos, e ao amigo Jaime Ballão.

Gehad Ismail Hajar

Pesquisador

Papilio Innocentia: Texto

Ópera de Leonard Kessler, escrita em 1915, mas nunca apresentada, é destaque da programação do II Festival de Ópera do Paraná

Por João Luiz Sampaio


O nome Leonard Kessler perseguiu durante certo tempo o pesquisador Gehad Hajar. O foco de seu trabalho sempre foi a música brasileira, em especial as óperas. E foi justamente enquanto trabalhava no acervo de Nicolau dos Santos, compositor que atuou no Paraná no início do século XX, que ele achou uma referência ao nome do músico suíço e de sua ópera Papilio innocentia. “Pouco depois, ele reapareceu em um texto de Andrade Muricy, que falava do modo como ele utilizava o fandango paranaense na partitura. Mas era isso”, conta Hajar. A curiosidade só aumentava. Como soaria essa música de um compositor suíço, radicado no Paraná, para uma história sobre uma índia que se apaixona por um português?


A luz veio quando Hajar, há três anos, teve acesso ao acervo da pianista René Devraine, uma das fundadoras da Escola de Música e Belas Artes do Paraná. “Repassando o material, lá estavam os manuscritos escritos a lápis, imagine só, de Papilio innocentia.” A curiosidade logo se transformou em um trabalho de revisão e edição da partitura, cuja versão para canto e piano acaba de ficar pronta e será apresentada neste mês no Teatro Guaíra, dentro da programação do II Festival de Ópera do Paraná, que tem direção-geral de Hajar, direção artística de Jean Reis e direção pedagógica de Marília Teixeira.


Kessler nasceu em 1881. Estudou em Paris e logo assumiu o posto de regente da Orquestra do Teatro Imperial de Riga. No início do século XX, passou a trabalhar com a Companhia de Operetas Paderesky. O grupo viajava o mundo e, pelas tantas, desembarcou no Brasil. Fez apresentações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Chegou a Curitiba e, depois de uma temporada de sucessos, por algum motivo se desfez. Parte do conjunto voltou para a Europa. Mas não Kessler. “Ele ficou por aqui e logo se inseriu no meio musical. Em 1912, regeu a estreia de Sidéria, de Augusto Strasser, e se aproximou do compositor e regente Benedicto Nicolau dos Santos, autor de Marumby e maestro que regeu um dos primeiros concertos com obras de Villa-Lobos, que viveu durante um breve período no Paraná”, lembra Hajar. O libreto para Papilio innocentia foi escrito por Emiliano Pernetta, “príncipe dos poetas simbolistas do Paraná”, baseado em argumento do Visconde de Taunay, “que foi presidente da província do Paraná”.


Sidéria e Marumby foram apresentadas na edição do ano passado do festival. E, em 2016, diz Hajar, estava na hora de Kessler subir ao palco do Guaíra. Justiça histórica. Coisas de Brasil, Papilio innocentia nunca estreou. “A ópera estava pronta, mas um político exigiu que o teatro fosse liberado na data prevista para a estreia, em 1915, para uma reunião. Os dias se passaram, e nada acontecia. Até que toda a equipe desistiu. Foi um golpe duro em Kessler, que em 1926 cometeria suicídio. Estamos contentes que a filha dele, hoje com 96 anos, poderá acompanhar a apresentação.” Segundo Hajar, a música da ópera “é sua principal característica, com uma riqueza incrível, de forte influência germânica, mas preocupada também com elementos brasileiros”. A produção do festival, com acompanhamento ao piano de Priscila Malanski e direção musical de Hajar, será apresentada no dia 27.


A programação inclui também a primeira montagem brasileira profissional de O franco-atirador, ópera de Carl Maria von Weber que, no início do século XIX, marcou uma revolução dentro do gênero na Alemanha. A produção, com récitas nos dias 12, 13 e 14, será regida por Stefan Geiger, à frente da Orquestra Sinfônica do Paraná. No elenco, cantores como Luciana Melamed, Norbert Seidl, Ana Paula Machado e Axel Wolloscheck. “É um título importante para a história da ópera e para o público paranaense, com forte ascendência germânica; assim, pareceu-nos interessante programá-lo”, diz Hajar. A Camerata Antiqua, por sua vez, vai apresentar a comédia madrigal Barca di Venetia per Padova, de Adriano Banchieri, que levará o público de volta ao momento do nascimento da ópera e de múltiplas formas de teatro musical. “A montagem está ficando bem interessante, teremos um barco no palco do Guairinha”, conta Hajar. Sucesso da edição do ano passado, La serva padrona, de Pergolesi, volta à programação, sendo apresentada ao ar livre e no Centro Cultural Sesi Heitor Stockler. Também estão previstas versões pocket de La traviata, de Verdi, e Rita, de Donizetti. 


“A ideia de trazer La serva padrona de volta tem um pouco a ver com aquela que acreditamos ser a função do festival. O sucesso da montagem no ano passado foi enorme, com plateias repletas de jovens. O fato é que o público paranaense ficou muito tempo distante da ópera. E, se há um grupo de pessoas sempre interessado e presente, lotando o teatro, também se mostra necessário formar novas plateias, refazer um público que acabou não sendo alimentado e estimulado nos últimos tempos”, explica Hajar. 


O Festival de Ópera do Paraná abrigará também uma destacada agenda pedagógica, dirigida por Marília Teixeira, que contará com a realização do Simpósio Brasileiro de Canto

Papilio Innocentia: Texto

Resumo dos atos

O romance passa-se em 1860, no Sertão de Santana do Paranaíba, onde Martinho dos Santos Pereira vive numa fazenda com sua jovem filha Inocência. Autoritário, Pereira exige da filha uma obediência que a obrigue ser educada sob seu regime e longe do mundo exterior. Pereira decide que a filha irá se casar com um homem criado no sertão bruto, Manecão, um negociante de gado com índole violenta. Inocência adoece e o pai encontrou-se com Cirino, que dizia-se médico. Após curar Inocência, ambos se apaixonaram.


Pereira convidou Cirino a ficar em sua casa e lhe arranjou alguns pacientes. Chega outro hóspede, Dr. Meyer, naturalista alemão que embarcou no Brasil com o objetivo de encontrar novas espécies de insetos e caçar borboletas, trazendo consigo um servo engraçado. Embora o anfitrião o tenha recebido normalmente, não compreendeu os elogios que o recém-chegado entregou para sua filha e começou a desconfiar dele.


Pereira pede que Cirino continue em sua casa até o alemão ir embora para ajudá-lo na guarda da filha. Quando Cirino declara seu amor para a filha de Pereira, ela mostra-se também apaixonada e ambos encontram-se no laranjal às escondidas. Embora pensassem estar seguros, o casal não sabia que Tico, o guarda mudo de Inocência, estava a espreita vigiando-os. Quando questionada por Cirino sobre uma possível fuga que poderia realizar o amor dos dois, Inocência recusa-se com medo do que isso possa causar em seu pai e aconselha o rapaz a procurar apoio com Antônio Cesário.


Se Pereira não desconfiava de Cirino, ele sentiu-se ainda mais desconfiado e vigilante perante a figura de Meyer, que encontrou uma bela espécie de borboleta desconhecida e resolveu batizá-la com o nome de Papilio Inocência. Concluindo seus estudos, o cientista alemão retorna à Europa, acalmando Pereira.


Durante esse episódio, Cirino também está viajando para encontrar-se com Antônio Cesário. Sozinha, Inocência apanha do pai ao recusar-se a casar com Manecão, que acaba de chegar em sua casa.


Pereira não entende a atitude da filha, mas sente-se indignado quando Tico o revela, através da mímica, que Cirino se encontrava com ela às escondidas enquanto ele desconfiava do Dr. Meyer e também revela que ele é um pseudo médico. Manecão, também raivoso, encontra-se com Cirino e assassina o rapaz. Mais tarde, a própria Inocência morre de tristeza por ter que se casar com Manecão.


A trama tem fim com Dr. Meyer recebendo uma grande homenagem na Alemanha por sua descoberta: a borboleta azul Papilio Innocentia.


Gehad Hajar.

Papilio Innocentia: Texto

Ficha Técnica

Papilio Innocentia

1915


Música de Léo Kessler (1882-1924)

Libreto de Emiliano Pernetta (1866-1921)

Argumento de Visconde de Taunay (1843-1899)


Estréia Mundial

• II Festival de Ópera do Paraná | 2016

27 de Novembro | Auditório Salvador de Ferrante - Guairinha

Gehad Hajar – Direção Geral

Jean Reis - Regência

Companhia Paranaense de Ópera

Inocentia – Soprano – Camila Bárbara

Maria Conga – Mezzo - Adaile Domingues Koentopp

Cyrino – Tenor - Ailson Martins

José – Tenor - Alysson Semfle

Guilherme – Barítono – Jomar Lúcio de Lima

Manecão – Barítono - Luiz Felipe Stellfeld Monteiro

Pereira – Barítono - Paulo Henrique Ignatowicz

Cesário – Baixo – Albert Santana de Andrade (SP)

Coro Lírico de Curitiba


Sopranos

Juliana Faria dos Santos Fischer

Pâmella C. M. M. Schmeguel

Rosimeiry Di Paula

Silvany de Mello


Mezzos/Contraltos

Edilange Xavier Alves

Franciele Pereira Oliveira

Carmem Lucia de Souza

Marilza Vieira Scheidt


Tenores

Abílio Ribeiro Neto

David Leal

Dimas Gustavo de Oliveira

Elcio Antonio de Almeida Junior

Emerson Francisco Silveira


Barítonos/Baixos

Frederico Silvestri

Glauber João Gorski

Jorge Antonio Lima Santos

Reginato Perini


Equipe Técnica

Silvany de Mello – Direção do Coro

Adaile Domingues Koentopp – Maestrina do Coro

Pepes do Valle – Preparador Vocal do Coro

Priscila Malanski – Pianista

Renato Gustavo – Pianista Ensaiador

Figurino: Áldice Lopes

Iluminação: Jackson Zielinski de Oliveira

Papilio Innocentia: Texto

Guairacá Cultural

+55 41 99767-7000

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